Os Zombies!! como eles são

O céu estava tingido duma cor negra pouco natural. O ar saturara-se dum cheiro a podre, a água da fonte na praça da cidade era vermelha e cheirava a sangue.
Não havia vivalma nas ruas, tirando três rapazes que esvaziavam o seu arsenal das mochilas. Um era encorpado, de ombros largos e vestia um blusão negro de cabedal. O segundo era alto e ágil, o seu cabelo caía pelos ombros. E por último, um mais baixo ajeitou os óculos, atrás dos quais se viam inteligentes olhos cinzentos, enquanto consultava um PDA. O primeiro distribuiu duas pequenas pistolas pelos companheiros, guardando a caçadeira para si.
Foi quando começaram a ouvir-se gemidos… de todas as direcções, dezenas, centenas de corpos avançaram na sua direcção, tinham pedaços de carne a cair dos braços, a roupa rasgada, o que restava da pele era cinzenta e roxa. Os três olharam as armas, com pouca confiança, e fitaram o exército de zombies que crescia à sua volta.
– Acham que se os ignorarmos, eles se vão embora? – lançou para o ar o de cabelo comprido, com um sorriso trocista.
– Hmm… – fez o dos óculos.
– Não creio, Jay, mas podias tentar o teu charme neles.
– Acho que são imunes, Zé… – os três carregaram as armas e apontaram aos undeads que avançavam sobre eles de braços esticados, meio aos tropeções nos seus próprios pés em decomposição, murmurando e gemendo palavras imperceptíveis.
– ‘Tás a gozar, há gente que é imune a ti, Jay?
– Eu não lhes chamaria propriamente gente – finalizou o mais silencioso dos dois, disparando sobre um zombie de saia e laços cor-de-rosa no cabelo, sujos e rasgados, atingindo-o no peito. O corpo agitou-se com o tiro, mas não parou. – Acho que estamos lixados…
– Achas, Ric? – sorriu de novo Jay.
BANG! BANG! As balas voaram em direcção aos zombies a metros de distância, distância essa que ia ficando cada vez mais curta apesar dos zombies se mexerem bem devagar. Zé, de caçadeira na mão avançara até à linha de ataque dos undeads, tentando fazer mais o maior número de estragos possíveis gastando o menor número de munições. Arrebentar com as suas cabeças, dois e três duma vez, era bastante eficaz, mas disparar para as pernas também funcionava mais ou menos. Eles continuavam a andar, rastejando pelo chão, mas muito mais devagar.
BANG! Um tiro particularmente certeiro de Jay, furou o pescoço de seis zombies que avançavam em fila para ele, no entanto as bestas avançavam na mesma, a cabeça balouçando-se nas suas costas.
BANG! BANG! Tiro após tiro, os corpos caídos acumulavam-se no chão, mas nem esses obstáculos abrandavam a vaga de undeadness que continuava a rodeá-los, mais próximo, muito mais próximo. Zé estava de novo junto aos outros dois, costas com costas, a carregar os últimos cartuchos. Estavam tão perto que conseguia fazê-los tropeçar com rasteiras…
CLICK! Zé e Ric olharam para a arma de Jay. Oh não… CLICK! A arma de Ric respondeu com o mesmo som. Estavam vazias. As garras dos zombies começavam a chegar-lhes, a arranhá-los, a tentar puxá-los. Ric atirou a pistola à cabeça de um zombie, acertando no que restava de um olho, o que não pareceu incomodá-lo muito. Jay começou a distribuir murros e pontapés, e perguntou ofegante: – Alguma ideia brilhante?
VAP-VAP-VAP-VAP-VAP-VAP-VAP-VAP…. um vento circular acompanhado de um som ensurdecedor aproximou-se por cima deles, os três ergueram os olhos em busca da sua origem. Era um…
– Um helicóptero!
– Hei, aquele é o nosso helicóptero! Hei!!! – Jay agitou os braços. Ia ainda a baixa altitude, via-se uma cabeça loura, de cabelos aos caracóis no lugar do piloto.
– Porra para aquela gaja!
Os zombies não repararam no helicóptero que ficara durante segundos a pairar sob as suas cabeças, provocando os três rapazes, que pararam de lutar. Os zombies não queriam saber. A sua refeição esperava-os. Carne fresca, para agarrar, arranhar, morder, despedaçar. As suas mãos puxaram-nos, desiquilibrando-os. Eles tentavam nadar para fora daquele mar de membros podres, mas em vão. A última coisa que se viu foi a mão de Zé a fazer um gesto obsceno na direcção do helicóptero e a ser puxada para dentro da vaga de zombies.

Os zombies afastaram-se, talvez cheirando carne viva noutro lado. Ficaram só os restos de Jay, Zé e Ric, perto da fonte no centro da praça.
– Se agora somos zombies, podemos matá-la certo? – perguntou Zé, enquanto tentava acender um cigarro, com as suas mãos desfeitas.


As personagems Jay, Ric, Zé e Caracóis são completamente fictícias. A situação em que se encontram é altamente baseada numa última experiência com zombies.

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